quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A valsa negra

Era pra eu ter acabado de ler Valsa Negra de Patrícia Melo antes de 2012, porque eu queria iniciar o ano com livro novo. Obra fácil de ler, dinâmica e tensa, mas o personagem narrador me causava nauseas, um pouco de raiva, mas principalmente angústia. O cara é casado com uma garota de 18 anos, 30 mais nova que ele. Ela se chama Marie e toca violino na orquestra. O maestro, assim como é chamado durante todo o livro, não é só um homem chato com uma puta crise de idade, ele é neurótico, ciumento, desconfiado, ranzinza.

Nem mesmo o diagnóstico de TOC, que o seu psicanalista deu, nem as perdas significativas da vida dele, nem os momentos de solidariedade que teve me fizeram sentir um pouquinho de gosto por ele. O tempo todo suspeitava da traição de Marie, colocava a empregada para vigiar. Tinha ciúmes de tudo, até dos jornais que ela lia, do violino que tocava. Chegou a dizer que sentia vontade que Marie não tivesse nada, nem violino, família e dinheiro, só para ter apenas ele. Vivia achando que a família dela o rejeitava por não ser judeu, não gostava das fotos dela com amig@s, pois não suportava que ele não estivesse junto.

Meu deus, que transtorno horrível. Marie descobriu que ele pagava a empregada para a observar, fez as malas e foi embora. Ele teve uma parada cardíaca, os dois acabaram voltando. Sabe, quando se tem 18 anos tudo é romântico, até os ciúmes. O maestro continuou com suas ideias, a ponto de perguntar quem era o amante de Marie...veja bem, ele criou a certeza, nem era mais dúvida. Claro, como qualquer mulher sensata, Marie foi embora de vez.

A partir daí, o maestro eleva seus problemas ao máximo. Começa a desinfetar a mão toda vez que cumprimenta alguém e limpar tudo o que as pessoas tocavam. Passa a perseguir Marie, anotando em um caderno tudo o que ela faz durante o dia, onde ela foi, com quem ela sentou. Pede demissão da orquestra, contrata um detetive e descobre onde Marie estava morando. O fim é muito trágico (não vou contar, vão ler!).

O maestro brigava com ela, ofendia sua maneira de tocar, dizia que ela nunca ia chegar a lugar nenhum, assim agia com @s outr@s também. Ele queria Marie de volta, porém você concordará comigo: ele nunca teve Marie, ele convivia com alguém para projetar todas as suas frustrações, pesadelos, ignorâncias, incertezas...em vez dele amar ela, ele queria a possuir. Talvez quisesse até que suas prturbações se confirmassem, só para justificar as neuroses e se achar normal.  

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