terça-feira, 14 de junho de 2011

Um tanto de um pedaço

Iriam continuar parados naquela estante, os livros empoeirados. Ela gostava de olhar para eles. Tantas histórias diferentes! E sua vida passava meio em branco, um rabisco aqui, outro ali, um desenho mal feito, umas palavras inadequadas. Alguns telefones riscados e umas 100 mil dúvidas anotadas e sublinhadas. Era um pouco difícil para ela chegar até o fim do seu café sem ter deixado uma lágrima esbarrar no liquido quente que a animava para mais um dia de prestações para pagar. Isso não era todos os dias, de jeito nenhum. Ela também sabia rir. Isso aí é só um pedacinho de um monte de dias semelhantes ao longo da vida.

Por falar em vida, ela vivia muito bem. Andando pra baixo e pra cima, ninguém notava que ela queria parar e se desabar naquele abraço no meio daqueles braços acolhedores e... sacanas. Filho da puta! De nada adiantou as caras e bocas, os sussurros e muito menos a sinceridade. O que adiantaria agora, era ela se apressar, andar mais rápido para não atrasar nem mais um segundo do seu futuro. De dentro de uma imitação da bolsa da Chanel, ela tirava o espelho e via se estava com cara de choro ou de nada. Perfeita. 
sxc.hu

Um dia ela me perguntou o que deveria ler, eu aconselhei um livro de fotografias. Era mais fácil para a instabilidade dos seus pensamentos e emoções. Ela é daquele tipo de mulher que não foge, que luta, que não para de imaginar momentos mais brilhantes e uma roupa e um sapato para cada um. Ela não é do tipo que fica deitada na cama vendo meia dúzia de filmes românticos, porque não tem tempo. Ela é do tipo intensa, às vezes desesperada, mas principalmente fugaz. Por isso, que o horário preferido dela para chorar é entre o café e o banho, antes de fazer a maquiagem. É por isso que o livro da vida dela é meio em branco, acontece agora e depois aconteceram outras dez coisas. Ela não vai desperdiçar o tempo contando detalhes. Ela precisa escolher o brinco que vai combinar com a blusa. Ela não tem tempo pra cuidar de um coração despedaçado, ele que continue sangrando enquanto ela vai vivendo.

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