Quando eu era pequena, aqui em casa tinha um aquário lindo. Cabiam muito peixinhos, além das conchinhas e pedrinhas. Os peixes mais comuns eram os dourados e aqueles muito pequenos que não sei especificar.
Claro, esse não é o Persistente, nem parece com ele. |
Meus olhos de criança passavam horas sobre aquele universo aquático exibido na estante. Eu inventava histórias, dava nomes e imaginava o que os eles sentiam. No entanto, aquele que eu não conseguia entender era um minúsculo peixe que chamava a atenção pelo seu comportamento agressivo e antisocial.
Não lembro se cheguei a dar um nome para ele. Hoje o chamaria de Persistente. Parecia que ele vivia apenas para um único fim: tentar chegar ao seu fim. Ele queria a todo custo suicidar. Ficava quase um dia todo tentando entrar dentro do tubo de oxigênio e pular para a terra, nesse caso, o piso da minha sala. Quem viu o filme Procurando Nemo sabe o quanto um peixe sofre para conseguir entrar no tubo e mesmo assim não é uma escolha espontânea.
Cansei de o resgatar entre fios e poeiras atrás da estante. Das tentativas a que mais me marcou foi em uma manhã que meu pai encheu uma velha banheira com água e colocou todos os peixinhos naquela imensidão. Persistente nem assim ficou contente e deu um salto, digno de circo, para fora da banheira. Eu imediatamente salvei sua vida.
Ele deveria me odiar, talvez o salvasse se retira-se ele da água e deixasse seu corpo contorcendo até a última agonia. Agora eu entendo que aquilo não poderia ser uma estratégia de fuga, porque memória de peixe é muito curta, coisa de segundos. Era uma vontade de morrer. Uma rejeição ao ambiente luminoso e belo do aquário, da profundidade da banheira. Penso que o mar, para ele, seria o mergulho na tristeza.
Um dia ele desapareceu, não o achei nos fios, nem pisado no chão, não tinha peixe frito para o almoço, nada que pudesse me esclarecer, mesmo que ilusiorimamente, para aonde o Persistente foi.
*Existe um peixe chamado Dojô que sempre pula dos aquário, por causa do seu espírito aventureiro, porém o Persistente não era um. Um Dojô não caberia no antigo aquário.
2 comentários:
que peixinho terrivel hein Carol! Acho que ele nao queria se suicidar e sim ver o mundo!
TEMÇO. Eu lembro disso muito bem, ele era muito agressivo, e eu tinha medo dele, sonhava que o espírito do peixe vevia nadando pela casa ( sem água ). Ótima postagem, só para RYCOS mesmo.
Postar um comentário